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Vacinas: o que são?

Todos os anos as vacinas permitem salvar a vida de dois a três milhões de pessoas no mundo inteiro. Descubra o que são, de que são feitas e qual foi a primeira vacina a ser desenvolvida.

16 Jun, 2021
8 min de leitura

A pandemia de Covid-19 trouxe para o centro da discussão pública o tema da vacinação e a importância das vacinas no combate às doenças e na promoção da saúde das populações. Mas afinal o que são as vacinas? E de que componentes são feitas?

De uma forma resumida, e tal como explica o Portal do SNS 24, as vacinas convencionais são uma preparação de antigénios (ou seja, elementos estranhos ao organismo) que, ao serem administrados numa pessoa através de uma injeção ou por via oral, provocam uma resposta imunitária protetora face a um ou mais agentes infeciosos. Isto significa que as vacinas “treinam” o nosso sistema imunológico para criar anticorpos, tornando-o mais forte e ajudando-o a construir resistência a infeções específicas.

 

Mas nem todas as vacinas são necessariamente constituídas por antigénios. Por exemplo, as vacinas da Moderna e da Pfizer, desenvolvidas para combater a pandemia Covid-19, são constituídas por ARN mensageiro (ARNm ou, na sigla em inglês, mRNA) sintético do agente patogénico (SARS-CoV-2).

 

Quando uma pessoa é vacinada o seu sistema imunitário reage, passando a produzir defesas contra a doença e a criar a imunidade. Caso a pessoa vacinada venha a ser infetada no futuro, o sistema imunitário conseguirá responder com rapidez, evitando que o “invasor” cause danos ao organismo.

 

As vacinas podem conferir diferentes níveis de proteção:

  • Proteção contra a infeção – as pessoas vacinadas podem ser infetadas, não desenvolvem a doença;
  • Proteção contra formas graves da doença – as pessoas vacinadas podem ser infetadas e desenvolver sintomas ligeiros da doença, mas sem evolução para sintomas graves;
  • Proteção contra a transmissão – as pessoas vacinadas podem contactar com o agente patogénico (vírus ou bactérias, por exemplo), mas este não se estabelece no organismo (ou seja, não causa infeção).

 

Há vacinas que funcionam de forma preventiva antes de qualquer infeção (vacinas profiláticas). Outras que são administradas a doentes que sofrem de uma patologia sensível ao efeito da vacina (vacinas terapêuticas). Tal como as vacinas profiláticas, as vacinas terapêuticas também estimulam o sistema imunitário a desenvolver uma resposta específica contra a infeção/doença estabelecida.

Como tudo começou

 

Consideradas como uma das mais importantes descobertas da humanidade, as vacinas são, na verdade, um instrumento relativamente recente na história da medicina.

 

As evidências históricas dão conta de que já na Índia e na China, por volta do século X, havia registos do recurso a material genético da varíola como técnica rudimentar de imunização contra a doença. As práticas, que pretendiam aumentar a proteção face à varíola, consistiam, por exemplo, na inalação de resíduos de pústulas de varíola ou na introdução de pus de um doente na pele de uma pessoa saudável. A estratégia ficou conhecida como variolação e foi usada também na Europa.

 

Mas foi com o médico inglês Edward Jenner que, em 1796, se deu um passo decisivo para a criação da primeira vacina contra a varíola. Jenner quis colocar à prova uma crença popular que afirmava que as pessoas que lidavam com gado não contraíam a varíola. Nas suas observações, Jenner reparou que as mulheres responsáveis pela ordenha de vacas, quando expostas ao vírus bovino da varíola, tinham uma versão mais suave da doença.

 

O médico inglês decidiu então fazer uma experiência com um menino de oito anos, James Phipps. Jenner recolheu líquido que saía de feridas causadas pela variante bovina da varíola e inoculou-o no menino. A criança apresentou alguns sintomas da doença, mas recuperou rapidamente. Mais tarde, Jenner voltou a expor a criança ao vírus, mas desta vez usou líquido da ferida de um paciente com a varíola humana. James Phipps não desenvolveu a doença, uma vez que tinha criado defesas contra o vírus da varíola humana. Edward Jenner tinha acabado de criar a vacina contra a varíola.

Recorde-se que, graças à vacina da varíola, foi possível a Organização Mundial de Saúde declarar, em 1980, o mundo livre desta doença – uma das mais mortíferas que a humanidade já enfrentou. Estima-se que a erradicação da varíola tenha salvo a vida a 200 milhões de pessoas em todo o mundo.

No entanto, foram necessários mais 90 anos após a descoberta de Edward Jenner para que fosse criada a primeira vacina produzida em laboratório, seguindo um processo científico. Estávamos em 1885 quando o francês Louis Pasteur aplicou pela primeira vez a vacina antirrábica numa criança de oito anos que tinha sido mordida por um cão raivoso, utilizando para esse efeito extratos de medula espinal de um cão com a doença. A experiência foi bem-sucedida e a criança foi a primeira pessoa a sobreviver à doença.

 

Desde então, muitos progressos foram feitos no desenvolvimento das vacinas para criar imunidade face a uma série de doenças como a cólera, hepatite, meningite, febre amarela, varicela, febre tifoide, tétano, poliomielite e difteria, entre muitas outras.

Como funcionam as vacinas

Em Portugal, o Programa Nacional de Vacinação abrange, atualmente, 13 vacinas a serem administradas a crianças. Recomendam-se ainda reforços das vacinas contra o tétano e difteria ao longo da vida. 

Os antigénios das vacinas podem ser vírus ou bactérias que estão inativos ou muito atenuados – ou então uma pequena parte desse vírus ou bactéria. Tecnologias mais recentes, como a ARNm (autorizada pela primeira vez em humanos na vacinação contra a Covid-19), têm uma abordagem diferente, providenciando “instruções” ao organismo sobre como produzir uma parte inofensiva do vírus, que depois desencadeará a resposta imunitária.

 

Qualquer que seja a técnica usada, as vacinas são seguras e não causam a doença, como sublinha a Organização Mundial de Saúde. O objetivo é exatamente o contrário: desencadear uma reação imunitária que consiga responder à infeção. Como se consegue provocar esta reação?

 

Em termos resumidos, aquilo que a vacina profilática faz é simular uma “invasão” para levar o nosso sistema imunitário a criar uma resposta para combater o “invasor”, através da produção de anticorpos. No fundo, estamos a ludibriar o sistema imunológico porque o “invasor” não está realmente dentro do nosso organismo. No entanto, a vacina vai gerar uma memória imunológica e, se no futuro estivermos em contacto com o “invasor”, o nosso sistema imunitário tem a capacidade para reconhecê-lo e rapidamente desencadear uma resposta.

De que são feitas as vacinas?

 

Esta é uma das dúvidas mais comuns. Mas, na verdade, muitos dos componentes das vacinas existem naturalmente no nosso corpo, no meio ambiente e até nos alimentos que comemos. “Todos os componentes das vacinas – bem como as próprias vacinas – são exaustivamente testados e monitorizados para garantir que são seguros”, sublinha a Organização Mundial de Saúde.

 

Entre os componentes mais comuns principais podemos encontrar:

  • Antigénios: forma inativa ou enfraquecida de um vírus ou bactéria que permite treinar o nosso corpo para combater uma doença. O antigénio também pode ser um fragmento do agente causador da doença.
  • Estabilizadores: ajudam a proteger a vacina durante o armazenamento e transporte.
  • Conservantes: garantem que a vacina se mantém livre de contaminações.
  • Adjuvantes: melhoram a resposta imunológica à vacina, tornando-a mais eficaz.

Principais benefícios das vacinas

 

Desde que o inglês Edward Jenner criou a vacina da varíola, em 1796, muitos progressos foram feitos no desenvolvimento das vacinas e na promoção da imunização da população mundial em relação a um enorme conjunto de doenças. As estimativas da Organização Mundial de Saúde apontam para que as vacinas todos os anos previnam a morte de dois a três milhões de pessoas, devido a doenças como a difteria, o tétano ou o sarampo.

Apesar da história de sucesso da vacinação, ainda há um longo caminho a percorrer no que diz respeito à proteção de doenças infeciosas. Perto de 20 milhões de crianças em todo o mundo têm dificuldades em aceder às vacinas e, todos os anos, cerca de 1,5 milhões de pessoas perdem a vida com doenças que seriam evitáveis através da vacinação.

As vacinas têm um papel crucial na prevenção e no controlo das doenças, na proteção da vida e no progresso das comunidades e nações. Elas protegem a pessoa que a recebe, mas também a comunidade no seu todo. Isto porque uma elevada taxa de cobertura de vacinação na população reduz a circulação dos agentes infeciosos, conferindo também proteção às pessoas que não podem ou não querem ser vacinadas.