O que seria do mundo sem vacinas? Da proteção individual à imunidade de grupo, a importância da vacinação vai muito além da imunidade da pessoa vacinada contra uma doença específica. Os programas de vacinação contribuem para o controlo, redução ou até a eliminação de doenças graves (como é o caso da varíola), para o progresso a longo prazo das comunidades (com menor mortalidade, melhores condições de saúde e benefícios socioeconómicos) e são fundamentais para que se cumpram Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
De um para todos: a importância da vacinação
Os benefícios das vacinas são vastos e comprovados . Fique a conhecer qual a importância da vacinação para si, para a sua comunidade e para a sociedade global, no imediato e a longo prazo.
Primeiramente, as vacinas permitem desenvolver proteção imunitária contra diversas doenças infeciosas, de forma preventiva (vacinas profiláticas). A vacinação é um dos grandes avanços da história da medicina e, em termos históricos, já salvou mais vidas do que os antibióticos, cirurgias ou qualquer outra intervenção médica. Os seus benefícios são vastos – e comprovados cientificamente em estudos realizados nos vários pontos do globo –, permitindo mudar a forma como o mundo dá resposta às doenças infeciosas e, de forma geral, às necessidades de saúde de toda a população.
Benefícios para si e para os seus filhos
A vacinação evita dois a três milhões de mortes todos os anos, segundo dados da Organização Mundial de Saúde.
Ao receber uma vacina, está a ganhar imunidade ativa contra uma doença infeciosa específica (ou até várias doenças, no caso de vacinas combinadas, como é o caso da vacina única contra a difteria, tétano e tosse convulsa). Isso permite-lhe ganhar proteção futura contra a doença ou mesmo, em certos casos, contra a própria infeção. A vacina contra a Hepatite A, por exemplo, é eficaz tanto na proteção contra a doença como contra infeções assintomáticas.
Uma vez que se trata de uma imunidade ativa (as vacinas induzem a produção de anticorpos no organismo), a proteção conferida pela vacina tem efeito duradouro – normalmente por décadas ou até para toda a vida –, ao contrário da imunidade passiva (que acontece quando o organismo “recebe” anticorpos diretamente de outra pessoa, por exemplo através da amamentação), cuja proteção dura apenas poucas semanas ou meses.
A vacinação é, por isso, uma ação que salva vidas. Veja-se o caso da poliomielite, doença grave que pode causar paralisia irreversível e até morte. Em Portugal, o Plano Nacional de Vacinação teve início nos anos 60 precisamente com uma campanha de vacinação em larga escala contra esta doença infeciosa. O resultado? A incidência da poliomielite diminuiu claramente em apenas um ano – e o último caso de doença aguda foi registado em 1986.
Além da redução das taxas de mortalidade e morbilidade (nº de doentes em relação à população total), a vacinação contribui ainda para evitar as complicações clínicas associadas às várias infeções, que muitas vezes se podem manifestar, de forma crónica, ao longo de toda a vida. De recordar que, sem vacina, estas complicações podem provocar outras doenças, invalidez e, no geral, colocar a saúde em risco e diminuir a qualidade de vida, afetando tanto o próprio doente como cuidadores informais.
Algumas vacinas contra doenças infeciosas contribuem para prevenir cancros ou complicações. É o caso, por exemplo, da infeção crónica de hepatite B, que está relacionada com o cancro do fígado, ou dos tipos de vírus do papiloma humano (HPV) de alto risco, que podem levar ao desenvolvimento do cancro do colo do útero.
Mesmo nos casos mais raros em que alguém vacinado acaba por, mais tarde, vir a desenvolver a doença para a qual devia estar imune (porque o organismo não responde à vacina de uma forma adequada), os sintomas são geralmente mais leves do que seriam para um não-vacinado.
Tendo em conta os benefícios individuais comprovados, a vacinação é fundamental para proteger a sua saúde e a da sua família.
Benefícios para a comunidade
A importância da vacinação vai muito além das vantagens diretas para a pessoa que ganha imunidade contra a doença: as vacinas permitem proteger toda a população, mesmo aqueles que não são vacinados.
Este fenómeno, conhecido como “imunidade de grupo”, acontece quando há um número considerável de pessoas vacinadas numa dada população para que se reduza a probabilidade de contactar com o agente patogénico (organismo contra o qual a vacina atua e que pode ser um vírus, bactéria, parasita ou fungo), declinando a incidência da doença. Ou seja, há uma segurança nos números: quanto mais pessoas estiverem imunizadas, maior a proteção geral contra essa doença. Ao ponto de não ser preciso uma cobertura de vacinação de 100% para conseguir controlar e eliminar algumas doenças.
Ainda assim, esta proteção indireta depende muito da dinâmica de transmissão de cada doença. Por exemplo, um vírus com elevada taxa de infeção requer um maior número de pessoas vacinadas (ou seja, uma maior percentagem de imunizados na população) para que se atinja a ambicionada imunidade de grupo. É o caso do sarampo que, por ser altamente contagioso, requer uma cobertura de vacinação de 95% para alcançar imunidade de grupo.
Efeito da imunidade de grupo
A imunidade de grupo, não sendo uma alternativa viável à vacinação – uma vez que não oferece a mesma eficácia na imunidade individual –, confere alguma proteção às pessoas que não podem ser vacinadas. Incluem-se, neste grupo, pessoas que estão muito doentes ou que têm um sistema imunitário comprometido, mas também outras que, por uma questão de idade ou outros fatores, acabam por não poder receber determinadas vacinas.
Na comunidade, a vacinação contribui também para uma espécie de solidariedade entre gerações. Quando se começam campanhas de vacinação em crianças, por exemplo, a menor circulação do agente infecioso na comunidade vai proteger também outras gerações (com destaque para os idosos que são, por norma, mais vulneráveis). A maioria das vacinas previstas no Programa Nacional de Vacinação devem ser administradas na infância, com o objetivo de proteger o mais precocemente possível. Este esforço permite também que as creches e escolas – onde as crianças se concentram em maior número – possam ser espaços seguros, com menor risco de contágios de doenças graves.
A imunidade de grupo pode ser adquirida de forma natural (desenvolvida por parte da população, depois de ter sido infetada). No entanto, a imunidade natural comporta mais riscos do que a imunidade de grupo obtida por vacinação, uma vez que implica estar infetado e desenvolver uma doença (com consequências para a saúde individual que não podem ser desvalorizadas).
De realçar que apenas se pode desenvolver imunidade de grupo para as doenças que se transmitem exclusivamente de pessoa para pessoa. O tétano (infeção causada pela contaminação com esporo da bactéria Clostridium tenani, que se encontra no meio ambiente) ou a raiva (doença contagiosa que se pode transmitir dos animais para o ser humano) são alguns exemplos para os quais não é possível adquirir imunidade de grupo.
Importância da vacinação na eliminação e erradicação de doenças infeciosas
Quando uma grande parte da população ganha imunidade a uma doença infeciosa, é possível controlá-la localmente (baixos níveis de infeção numa população). A partir do momento em que deixam de existir cadeias de transmissão locais – e, no caso de importações, os contágios são facilmente controlados e extinguidos –, a doença pode vir a ser eliminada. Se a eliminação se dá a nível global, a doença é considerada erradicada.
Mesmo no limiar da imunidade de grupo, os cuidados de vacinação (e de controlo de doenças infeciosas) não devem ser descurados. Basta um indivíduo infetado para criar uma nova cadeia de contágio.
A erradicação mundial de uma doença é o objetivo último da vacinação. Embora muito difícil (requer um esforço de todos os países, com campanhas de vacinação a larga escala), a erradicação já foi possível no caso da varíola (em 1980). De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a poliomielite foi eliminada na região europeia em 2002 e, atualmente, apenas dois países do mundo têm cadeias de contágio ativas – o que torna a erradicação global desta doença um objetivo cada vez mais próximo.
Impacto da vacinação em Portugal
A importância da vacinação para o controlo, eliminação e erradicação de doenças está associada ao progresso sem precedentes da humanidade. Menos mortes, menos doentes crónicos e menos mortalidade infantil no mundo são alguns dos benefícios diretos, mas também a maior esperança média de vida, maior equidade no acesso à saúde (em resultado dos programas nacionais de vacinação) e melhores condições de saúde e bem-estar. Uma vez que evitam o recurso a antibióticos, as vacinas também contribuem para reduzir o desenvolvimento da resistência a antibióticos, uma preocupação de saúde pública que, segundo a OCDE, causa cerca de 700 mil mortes por ano.
Como bastião da saúde pública global, a vacinação contribui para concretizar alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pelas Nações Unidas como metas para 2030. O Objetivo 1 (“Erradicar a pobreza”), o Objetivo 3 (“Saúde de qualidade”) e o Objetivo 10 (“Reduzir as desigualdades”) são exemplos de metas que beneficiam dos esforços globais de vacinação. Pelo contributo na saúde das mulheres, nomeadamente através da vacina contra o HPV, que previne a maioria dos cancros do colo do útero, a vacinação permite também avanços no Objetivo 5 (“Igualdade de Género”).
Economia e turismo
Os progressos na saúde pública têm também benefícios económicos importantes. Apesar do investimento necessário para a compra e distribuição de vacinas, os sistemas de saúde acabam por conseguir poupar a longo prazo: crianças e adultos protegidos contra doenças e as suas complicações representam menos custos para os serviços de saúde.
As estimativas apontam para que, por cada dólar investido em imunização entre 2021 e 2030, possam ser poupados 21 dólares (tendo em conta custos potenciais nos sistemas de saúde, perdas de rendimento e perdas de produtividade por doença/morte). As contas foram feitas tendo por base os 73 países associados ao programa GAVI – The Vaccine Alliance, que estima também que as campanhas de vacinação realizadas entre 2000 e 2017 tenham contribuído para um benefício económico de mais de 150 mil milhões de dólares. Há ainda que destacar a importância da vacinação no turismo e viagens internacionais, como é o caso do impacto das vacinas contra a Covid-19 na retoma de maior mobilidade global.
Este relevante contributo já estava comprovado antes da pandemia de SARS-CoV-2. Sem vacinação, as viagens internacionais comportariam mais riscos de doenças contagiosas para turistas e comunidades locais, criando novas cadeias de contágio de doenças como a febre tifoide, cólera ou hepatite, entre tantas outras. Daí a importância da consulta do viajante, com o aconselhamento das vacinas a tomar antes de viajar.