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4 factos a saber sobre as variantes do coronavírus

Que variantes do coronavírus causador da Covid-19 estão em circulação em Portugal? Tornam o vírus mais perigoso? Temos de nos preparar para novas variantes no futuro? Descubra mais sobre as mutações do vírus SARS-CoV-2 e esclareça as suas dúvidas.

16 Jun, 2021
8 min de leitura

Existem milhares de variantes do coronavírus SARS-CoV-2, mas apenas algumas são alvo de atenção redobrada por poderem ser mais contagiosas, causar uma forma mais grave da doença ou tornar menos eficazes as vacinas existentes. Atualmente, há quatro variantes identificadas como preocupantes: Alfa, Beta, Gama e Delta. 

O vírus SARS-CoV-2 está em mutação à medida que se espalha pelo mundo. O fenómeno, comum a todos os vírus, é normal e expetável: à medida que um vírus se replica e o seu material genético é copiado, podem ocorrer erros que o tornam diferente da versão anterior – são as chamadas mutações genéticas. Quando o vírus começa a circular com uma ou mais mutações, de forma consistente, estamos perante uma nova variante.

 

Conheça quatro factos que o ajudam a saber mais sobre as variantes do coronavírus SARS-CoV-2, as suas especificidades e quais as mais importantes em circulação em Portugal.

1. Existem três categorias para avaliar variantes virais

Nem todas as mutações do vírus são mais perigosas do que a versão anterior. Perante milhares de variantes existentes, as autoridades competentes têm em conta três categorias de avaliação para distinguir variantes que merecem maior atenção e cuidados:

 

  • Variantes de elevadas consequências (VOHC – variants of high consequence) – variantes com mutações que comprometem significativamente as medidas de resposta existentes (testes de diagnóstico, medicamentos ou vacinas). Até ao momento, nenhuma variante do SARS-CoV-2 foi classificada como VOHC.
  • Variantes de preocupação (VOC – variants of concern) – variantes para as quais há evidência científica de que são mais contagiosas, têm maior virulência (ou seja, capazes de provocar formas mais graves de Covid-19) e/ou estão associadas a uma redução significativa da resposta imunitária do organismo.
  • Variantes de interesse (VOI – variants of interest) – variantes em que as mutações identificadas podem afetar a forma como o vírus se liga e penetra nas células humanas, embora ainda não existam evidências sobre transmissibilidade, severidade da doença ou resposta imunitária.

2. São quatro as variantes de preocupação identificadas pela Organização Mundial de Saúde e pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças – todas em circulação em Portugal

Na atualização de 31 de maio, a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou quatro variantes do coronavírus SARS-CoV-2 como “variantes de preocupação”. Os seus nomes são baseados em letras do alfabeto grego, de acordo com a estratégia adotada pela OMS para encontrar nomenclaturas fáceis de usar, sem cair no estigma de dar o nome do país onde foram detetadas. As quatro variantes de preocupação são:

 

  • Alfa – detetada em setembro de 2020 no Reino Unido (daí ser frequentemente chamada de “variante do Reino Unido” ou “variante de Kent”). É atualmente a variante dominante na União Europeia e foi, durante algum tempo, dominante no Reino Unido, tendo, entretanto, sido substituída pela Delta.
  • Beta – detetada em maio de 2020, na África do Sul.
  • Gama – detetada em novembro de 2020, no Brasil.
  • Delta – frequentemente apontada como a variante responsável pela gravidade do surto na Índia, foi detetada em outubro de 2020, nesse mesmo país. É chamada também de “variante indiana”, embora existam outras variantes detetadas no país.

 

Também o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) identifica estas variantes de preocupação, no último relatório de 3 de junho de 2021, destacando que podem “ter um impacto na situação epidemiológica da União Europeia/Espaço Económico Europeu”. De realçar que o relatório da ECDC inclui ainda como variante de preocupação a combinação da variante Alfa com uma mutação extra (E484K), que tem estado na origem de surtos em território europeu.

Especificamente em Portugal, o Relatório de monitorização das linhas vermelhas para a COVID-19, de 11 de junho, dá conta de que estas quatro variantes circulam em Portugal. A variante Alfa é predominante no país, estimando-se que corresponda a 87,7% de todos os casos de infeção. No caso das variantes Beta, Gama e Delta, a transmissão comunitária em Portugal está confirmada.

E quanto à chamada “variante do Nepal”? Uma mutação (K417N) adicional na variante Delta tem merecido atenção global – e foi até o motivo apontado para Inglaterra retirar Portugal da “lista verde” de países seguros no início de junho. Esta mutação foi detetada inicialmente no Nepal, mas há registos da sua presença em diversas províncias indianas, Inglaterra e Portugal, entre outros países. De realçar que a mutação não foi classificada como variante pela OMS (é considerada uma subvariante da Delta), está sob vigilância e ainda não há dados suficientes para tirar conclusões sobre a sua gravidade.

3. As variantes do coronavírus SARS-CoV-2 têm diferentes características

As mutações do vírus podem ocorrer de forma aleatória, afetando qualquer região do genoma (material genético do vírus). No entanto, até agora, as variantes de preocupação possuem mutações numa seção particular do vírus: a proteína da espícula do SARS-CoV-2 (proteína S), conhecida, em inglês, por spike protein.

 

As mutações na proteína da espícula são vigiadas com atenção especial devido a três circunstâncias:

 

  • Esta proteína é responsável pela ligação e entrada do SARS-CoV-2 nas células humanas. As alterações nesta proteína podem ter impacto na transmissibilidade e virulência do vírus.
  • A proteína é revestida por algumas moléculas de açúcar (denominados glicanos) que ajudam o vírus a escapar ao sistema imunitário. Certas mutações podem modificar a capacidade de adquirir este revestimento, ajudando o vírus a escapar de forma mais eficaz.
  • As vacinas para a Covid-19 preparam o organismo para reagir à presença da proteína da espícula. Mudanças drásticas na proteína podem tornar as vacinas existentes menos eficazes.
Decorrente da vigilância genética, os cientistas sabem que as variantes do coronavírus SARS-CoV-2 que causam preocupação têm algumas mutações específicas e outras comuns entre si. Por exemplo, a mutação N501Y está presente nas variantes Alfa, Beta e Gama (afeta a ligação ao recetor das células humanas, potenciando a transmissibilidade do vírus).

De acordo com as evidências atuais, todas as variantes de preocupação identificadas pelo ECDC tornam o vírus mais transmissível e capaz de causar doença mais grave. Quanto ao impacto na imunidade, foi já confirmado nas variantes Beta, Gama e Delta, assim como na variante Alfa com a mutação adicional E484K. Informação do Reino Unido indica que a variante Delta é 40% mais transmissível do que a variante Alfa, que atualmente predomina em Portugal.

4. A vacinação é essencial para travar novas variantes

Enquanto a disseminação do vírus não estiver controlada, são expetáveis novas variantes do coronavírus SARS-CoV-2 que causem preocupação. É tudo uma questão de probabilidades: sabemos que as mutações do SARS-CoV-2 são frequentes (como em muitos vírus) e que quanto maior o número de infeções, maior será o número de erros na replicação do material genético viral que irá ocorrer. Deste modo, aumentam as probabilidades de novas mutações (ou combinação de mutações) eventualmente mais perigosas.

 

As vacinas são a resposta mais eficaz para gerar imunidade em larga escala contra a Covid-19. Apesar de certas variantes tornarem as vacinas um pouco menos eficazes, estas continuam a prestar uma proteção relevante contra doença grave, hospitalização e morte por Covid-19. Para além disso, reduzem a circulação do vírus na comunidade, contribuindo para gerar uma eventual imunidade de grupo e diminuir a probabilidade de surgimento de novas variantes.

 

No futuro, a emergência de novas variantes pode levar à necessidade de adaptação das vacinas existentes. No entanto, as tecnologias inovadoras utilizadas na produção das vacinas para a Covid-19 tornam estas adaptações mais rápidas e simples.

Em qualquer dos cenários de evolução do vírus, continuar os esforços de vacinação à escala global é um processo fundamental para controlar a transmissão do SARS-CoV-2. Quanto mais o vírus se espalhar, sem controlo, maior a probabilidade de surgirem novas variantes graves. Assegurar uma distribuição equitativa e justa de vacinas em todo o mundo permitirá controlar melhor o vírus e diminuir as probabilidades de surgimento de novas variantes mais perigosas, reduzindo o risco de contágio global.