A Direção-Geral da Saúde (DGS) prevê a inclusão de grávidas na campanha nacional de vacinação contra a Covid-19, sem necessidade de declaração médica. A decisão deriva de evidências científicas que indicam que a vacinação de grávidas é segura – assim como é segura a vacinação de quem está a amamentar. Descubra mais sobre as normas em vigor e os estudos em que se baseiam.
Covid-19: É segura a vacinação de grávidas? E na amamentação?
A vacinação de grávidas está prevista no âmbito da campanha geral de vacinação contra a Covid-19. Mas o que dizem as evidências científicas? E para quem está a amamentar? Descubra as respostas.
A vacinação de grávidas é segura? E é recomendada a partir de qualquer altura? Este foi um tema que gerou muitas dúvidas ao longo da campanha de vacinação portuguesa contra a Covid-19, mas que a atualização da norma da DGS, de 13 de julho, veio esclarecer.
“As grávidas com 16 ou mais anos de idade devem ser vacinadas contra a Covid-19, com as vacinas recomendadas em Portugal e de acordo com as Normas da DGS em vigor, não sendo necessária declaração médica”, pode ler-se na norma atualizada 002/2021. Ou seja, no que à vacinação diz respeito, as grávidas seguem as normas aplicáveis à população em geral.
Ainda assim, existem certas indicações específicas para as grávidas que devem ser tidas em conta:
- O início da vacinação deve ser feito a partir das 21 semanas de gestação (após ecografia morfológica), embora não exista uma idade gestacional limite;
- Se tiver recebido uma outra vacina (como a vacina contra a tosse convulsa ou contra a gripe), deve respeitar um período mínimo de 14 dias até receber a vacinação contra a Covid-19. O mesmo não se aplica na administração de imunoglobulina anti-D, que não afeta a toma da vacina contra a Covid-19, podendo, inclusive, serem administradas no mesmo dia.
Os benefícios da vacina superam os riscos?
À data, as evidências científicas disponíveis mostram que os benefícios da vacinação de grávidas superam os riscos de infeção e decorrentes efeitos da doença. Apesar de o número de casos de infeção em grávidas não ser elevado, é assumido que o risco de infeção é semelhante ao da população em geral.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que as grávidas que têm mais idade, com excesso de peso ou condições médicas pré-existentes (como hipertensão ou diabetes) parecem ter um risco acrescido de desenvolver formas graves da doença Covid-19.
De acordo com o CDC – Centers for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos, as grávidas têm maior risco de desenvolver formas graves da doença, quando comparadas com a população em geral.
Qual o panorama internacional?
A recomendação da vacinação de grávidas contra a Covid-19 está em linha com outros países, como a Espanha, França, Reino Unido, Estados Unidos ou Canadá.
Contudo, mesmo nos países onde a administração da vacina é permitida ou recomendada, existem diferenças: certos países enquadram as grávidas nos procedimentos aplicáveis a toda a população (caso de Portugal); alguns consideram as grávidas como grupo prioritário no acesso à vacina; outros só recomendam vacinas específicas e não todas as vacinas autorizadas para a população em geral; e há países que apenas recomendam a administração da vacina a grupos específicos de grávidas.
104 países em todo o mundo recomendam explicitamente ou autorizam a vacinação de grávidas contra a Covid-19, segundo dados da plataforma COMIT – Covid-19 Maternal Immunization Tracker, à data de 13 de outubro de 2021. A plataforma indica ainda que 23 países permitem a vacinação condicionada a certos grupos, enquanto 32 países optaram pelo caminho inverso, não recomendando a vacinação a grávidas (é o caso de Angola, Moçambique e China).
Em relação às quatro vacinas autorizadas na União Europeia e administradas em Portugal, o parecer oficial da Agência Europeia dos Medicamentos (EMA, na sigla original) é a de que “a decisão sobre o uso da vacina em mulheres grávidas deve ser feita em estreita ligação com um profissional de saúde, depois de considerados os benefícios e os riscos”.
Já a OMS recomenda interinamente a vacinação “quando os benefícios da vacinação em mulheres grávidas prevaleçam sobre os riscos potenciais”, dando como exemplos os casos em que as grávidas têm risco elevado de exposição ao vírus SARS-CoV-2 ou que têm comorbilidades que as tornem mais vulneráveis às formas graves da doença.
O que dizem os estudos sobre a vacinação de grávidas?
Este panorama diverso na abordagem da vacinação de grávidas contra a Covid-19 – incluindo entre países que fazem parte da União Europeia – não é sinónimo de insegurança das vacinas. O que sucede é que existem dados mais limitados sobre a vacinação em grávidas do que na população em geral, uma vez que os primeiros ensaios às vacinas não incluíam mulheres grávidas.
A própria DGS reconhece a limitação de dados disponíveis, embora reforce a segurança da tecnologia das vacinas em uso em Portugal. “A evidência científica sobre a segurança e eficácia da vacinação contra o SARS-CoV-2 na gravidez é ainda limitada, contudo, todas as vacinas disponíveis contra a Covid-19 utilizam tecnologias de vírus não-ativados, pelo que não são expectáveis riscos adicionais durante a gravidez e a amamentação”, lê-se na norma nº 002/202.
No entanto, desde os primeiros ensaios clínicos, vários estudos têm decorrido em diversos pontos do globo, com a monitorização de mulheres grávidas vacinadas. Os resultados, ainda que preliminares, não identificam preocupações quanto à segurança de grávidas e dos fetos. Estas evidências têm estado na base da autorização e recomendação da vacinação de grávidas por diversos países.
Um dos estudos mais referenciados, inclusive pela DGS, diz respeito à monitorização nos Estados Unidos de grávidas vacinadas com vacinas de ARN mensageiro (ARNm ou, na sigla em inglês, mRNA), ou seja, com vacinas Pfizer-BioNTech e Moderna. Os dados recolhidos pelo CDC não demonstraram diferenças significativas nos resultados das mulheres vacinadas, numa base que inclui mais de cem mil registos.
A partir dos resultados preliminares desta monitorização – que indicam que os benefícios esperados ultrapassam os riscos (teóricos) para grávidas e feto – e de estudos anteriores que não detetaram efeitos adversos relacionados com a gravidez para o mesmo vetor viral do que é usado nas vacinas Janssen (Johnson & Johnson), o CDC passou a recomendar explicitamente a vacinação de grávidas contra a Covid-19 nos Estados Unidos.
E há riscos na amamentação?
102 países recomendam explicitamente ou autorizam a vacinação contra a Covid-19 para todas as mulheres que estão a amamentar (dados COMIT).
Tal como no caso da vacinação de grávidas, os primeiros ensaios clínicos das vacinas não incluíram mulheres a amamentar. Ainda assim, a norma nº 002/2021 da DGS indica que “a amamentação não constitui uma contraindicação para a vacinação contra a Covid-19”. Ao nível do regulador europeu, a EMA reforça que “não são esperados riscos na amamentação” com a administração das vacinas.
Um artigo da revista Nature, que resume alguns dos estudos já efetuados sobre este tema, aponta que as vacinas não se transmitem através da amamentação (não tendo sido encontrados vestígios de vacinas nos bebés amamentados), atestando a segurança nestes casos. Mais ainda, há certas evidências de que os anticorpos podem ser transmitidos de mãe para filho, o que seria uma proteção para os bebés.
Dados de um artigo da Universidade da Florida (EUA), publicado a 20 de agosto, reforçam este lado positivo: foram detetados anticorpos contra a Covid-19 no leite humano, sugerindo que as mães vacinadas podem transmitir a imunidade aos filhos (imunidade passiva). Mais investigação é necessária, no entanto, para confirmar a possibilidade desta imunidade passiva através da amamentação – e perceber mais sobre as suas características.